
Uma ideia vem sempre de uma insatisfação ou da necessidade de mudança. Saiba como foi o projeto de construção da Mescla, contada pelo Lucas Arcoverde, designer e fundador da marca.
Meu curso de design sempre foi direcionado para branding e moda. Sempre aprendi sobre processos e projeto, em toda a minha mínima experiência na área. Acompanhei algumas criações de coleções de grandes marcas. Enxergava grande potencial no início do desenvolvimento, que se perdia no meio do caminho e a coleção ia para a rua sem toda a riqueza que poderia. Mas mesmo assim aquilo dava certo!

Na moda masculina, o mercado oferece menos opções para os consumidores cariocas. As grandes marcas se baseiam, em sua grande maioria, na cultura do surf e skate como lifestyle. A essência é seguida em todas as coleções, o que é um ponto muito positivo. O negativo é que não existe um tema por estação e todas costumam seguir apenas esse atributo maior da marca. Não aguentava ter que seguir essa pegada “Ipanema posto 9” ou marcas “fun”. Queria poder utilizar tudo o que aprendi sobre conceito, processo e projeto. Foi daí que surgiu a ideia de uma nova marca. Algo que não fosse apenas uma expressão visual, mas que trouxesse conteúdo. A matéria-prima surgiu durante a pesquisa, aonde pude entender mais sobre tecidos, cada etapa de produção e aprender o quão degradante é a indústria algodoeira. Foi uma oportunidade também para se diferenciar no mercado, usar o algodão orgânico e tecidos reciclados. Quando chegamos a um nome, nada mais se encaixaria melhor do que Mescla. Descobri que ele representava não só a essência da marca, mas também a minha história. Nasci e fui criado no Jardim Botânico, com parte da infância vivida em uma fazenda colonial que se transformou em cidade de interior, mas cheia de história sobre a sociedade brasileira. Ao mesmo tempo, Mescla representa o nome de um tom acinzentado que é chamado assim pela moda devido a mistura dos fios. E vai além, pois fala do passado com o presente, do urbano em contraste com a natureza dos materiais que utilizamos. E também do design que caminha junto com os acontecimentos da sociedade. Ela nasceu como inicialmente uma camiseteria, mas sempre com a ideia de ir além de apenas isso.
Hoje, após 3 anos, continuamos alimentando uma economia local e podemos dar o segundo passo muito importante. Deixamos de produzir apenas camisetas, lançamos as bermudas que foram desenvolvidas em um tecido reciclado nunca usado por nós e pouquíssimo explorado na moda. Câmaras de ar de pneus, que não tem previsão exata para degradar foram tiradas do lixo para dar um acabamento neste produto. E para aumentar a nossa voz no mundo, o ecommerce foi lançado no site que, antes, era apenas institucional. Por isso tudo, um evento marcou essa nova era. O Metrópole Art’N Grill recebeu a Mescla no dia 5 de novembro. A galera que compareceu, além de conhecer a coleção de perto, ainda ganhou livros de fotografias urbanas incríveis do projeto chamado Vai e Vem. É um orgulho poder contar essa saga que nem sempre são flores e tem seus altos e baixos sim. Mas quem não faz Aventura, não tem história para contar. Obrigado por fazer parte dela!